CINZAS QUE ESCURECEM O FUTURO

Crise no sector das madeiras anuncia falências

A indústria de serração de madeiras “estará a caminho da extinção”, alertou Fernando Rolin, presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), em declarações ao Jornal de Negócios, estimando ainda que daqui a sete anos haverá apenas “umas 20 unidades” que empregarão “cerca de mil trabalhadores”.
A manter-se esta tendência, auguram-se dias muito difíceis para a nossa região, e especialmente para a freguesia da Caranguejeira. O encerramento destas indústrias trará o drama do desemprego a muitos caranguejeirences, algo em que, para já, ainda muito poucos pensam.
Na origem do problema está a falta de matéria-prima, situação à qual não escapam as unidades em laboração na zona de Leiria, garantiu ao NC Rui Oliveira, conhecido líder das empresas Valco e Emprimade, e que há poucos dias finalizou o segundo mandato como presidente da Associação dos Industriais de Madeiras do Centro (AIMC).
Segundo contas da AIMMP, nos últimos oito anos desapareceram quase dois terços das empresas e mais de metade dos postos de trabalho. Para Rui Oliveira esta situação irá agravar-se ainda mais, devido não apenas à falta de cuidado na preservação da floresta do nosso país “deixando que os incêndios a devastassem”, mas também porque “a zona reflorestada onde estão a crescer árvores jovens o destino será provavelmente o mesmo, ou seja, arder, e isto é extremamente penalizante para o sector. A cada ano que passa estamos mais atrás porque não conseguimos acompanhar este crescimento com uma floresta sustentada e tratada. Ao contrário, todos os anos assistimos não só à queima das florestas adultas, mas também às florestas jovens. Por outro lado, como não há ordenamento, nem disciplina nenhuma, as pessoas que replantam procuram, normalmente, o lucro fácil e imediato, isto é, a plantação do eucalipto.”
Dadas as diversas razões, Rui Oliveira vaticina que “a muito curto prazo, na nossa região que tinha uma predominância do pinho, as industrias acabarão por fechar por falta de matéria-prima”. Concretamente, na freguesia da Caranguejeira, esta situação terá um desfecho dramático, dada a predominância deste tipo de indústria. “Entre cinco a dez anos teremos, lamentavelmente, a extinção da indústria da madeira na nossa freguesia”, prevê este empresário.
Para Rui Oliveira “a nossa indústria está condenada” dada a falta de matéria-prima, excepto de forem tomadas de algumas medidas que “possam fazer a prevenção da floresta”, que criem “incentivos à reflorestação”, e que através de subsídios auxiliem a “importação de madeira dos países do Sul da América ou da África do Sul que actualmente possuem uma plantação de pinho muito ordenada e desenvolvida.
Desempregos em massa serão inevitáveis
As perdas de muitos postos de trabalho na nossa região “são inevitáveis”, na opinião deste empresário, e a reflorestação não poderá compensar o grande número de desempregos. “Infelizmente os nossos autarcas estão completamente de costas voltadas para este sector. É uma indústria que está votada ao abandono, e não vamos ter aqui um futuro risonho”, lamenta.
Face a esta situação, a AIMC em conjunto com outras associações já tentou chegar à fala com o Governo, nomeadamente tentando dialogar com o ministro “no sentido de o sensibilizar para estas situações”. “Contudo todos nós sabemos que o que interessa aos Governos são os grandes lobis, concretamente a celulose, que é o grande dinamizador da floresta nacional, e nós serrações não temos um grupo forte que faça manifestar isso. É o jogo da influência difícil de fazer com pequenas e médias indústrias”.
Entretanto Fernando Rolin, através da AIMMP, exigiu já a intervenção do Governo no sentido de não só fazer um diagnóstico da situação e estudar soluções, mas também criar apoios para os pinhais no quadro do Plano de Desenvolvimento Rural e ainda subsídios para o transporte do pinho importado, por forma a fazer em Portugal uma espécie de pousio de pinheiro bravo.

Sector passará pela reconversão mas não evitará o desastre
Para Rui Oliveira o futuro do sector passará “pelo que aconteceu no sector da cerâmica”. “Irão aparecer um conjunto muito restrito de grandes unidades industriais que irão concentrar a sua produção e que acabarão por fechar todos os outros”. Contudo, avisa, “também não é por aqui que vamos colmatar esta crise de empregos que vai afectar a nossa freguesia drasticamente. O desastre é inevitável” e antevê-se na “fotografia da indústria de madeira da freguesia: empresas velhas, tecnologicamente desactualizadas e com excesso de mão-de-obra. O desastre é inevitável e já não iremos a tempo de o evitar. Daqui a uns cinco anos teremos uma crise muito forte na Caranguejeira”, vaticina.
A reter ficam os números do passado. Em 1998 esta actividade absorvia cerca de 730 unidades industriais e empregava 10.700 trabalhadores. Hoje as contas asseguram que as indústrias são pouco mais de um terço e os operários pouco mais de metade. Ao nível financeiro, e segundo o Jornal de Negócios, a facturação da indústria de serração atingiu os 530 milhões de euros em 2005, tendo as exportações (quase em exclusivo para Espanha) chegado aos 57,7 milhões de euros e as importações aos 127 milhões de euros.

Eleições da AIMC
Na presidência da AIMC o caranguejeirence José Manuel Gaspar substituiu o outro caranguejeirence Rui Oliveira. As eleições realizaram-se no passado dia 31 de Março, e ditaram que o ex-vice-presidente e dono da Sopromad (Pousos) assumisse agora o cargo máximo, continuando com o apoio do ex.presidente, agora como vogal.

reportagem: Orlando Marques

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